Na sangrenta Revolução Federalista, que custou 10 mil vidas, o senador Eduardo Wandenkolk se uniu aos revolucionários e o colega Pinheiro Machado lutou ao lado dos legalistas. A paz foi assinada há 120 anos, em agosto de 1895. Uma das histórias mais ensinadas nos colégios diz que a ruptura de 1889 ocorreu sem derramamento de sangue.
De fato, a Proclamação da República, no Rio, foi um ato pacífico. Mas houve, sim, uma reação sangrenta ao sepultamento do Império. Ela se daria pouco tempo depois e a centenas de quilômetros da capital. Foi a Revolução Federalista, a guerra civil que explodiu no Rio Grande do Sul em 1893 e mais tarde arrastou Santa Catarina e o Paraná. Os enfrentamentos se estenderam por dois anos e meio e terminaram com um saldo estimado de 10 mil cadáveres. O acordo de paz, em 23 de agosto de 1895, completa 120 anos neste mês.
Para não perder o poder, os velhos barões do Império viraram a casaca em 1889 e conseguiram se transformar na nova elite da República. O Rio Grande do Sul foi exceção. Na monarquia, o governo gaúcho esteve nas mãos dos fazendeiros. O último governador foi o estancieiro Gaspar da Silveira Martins, que era próximo de dom Pedro II.
Os revolucionários, que se compunham basicamente de estancieiros e seus peões, estavam acostumados a matar ovelhas cotando-lhes o pescoço com um punhal e adaptaram essa cruel forma de execução à guerra — daí o apelido Guerra da Degola. O conflito também rachou os senadores, mostram documentos históricos guardados no Arquivo do Senado, em Brasília. Elizeu de Souza Martins (PI), em junho de 1893, discursou contra os legalistas: — Não há outra Constituição ridícula como aquela. No campo oposto, Manoel Victorino (BA) atacou: — A República não pode ter maior adversário do que o senhor Gaspar da Silveira Martins, que está habituado a dominar desde o Império e não se sujeitará a estar em plano secundário na República. Theodureto Souto (CE) adotou um tom conciliador: — O Senado é o grande responsável pelo regime federal. Não lhe é permitido permanecer imóvel diante de situações como a do Rio Grande do Sul, teatro de uma revolução devastadora e em que se consomem milhares de vidas, milheiros de contos e o sentimento supremo da Integridade da pátria.